Bois

Artigos : Boi verde, a carne ecológicamente "made in Brazil"
17/09

 

  O pecuarista brasileiro tem três alternativas para tocar o seu negócio. Duas são mais tradicionais e conhecidas, além de estar nos dois extremos: de um lado, a criação extensiva, enquadrada no conceito de “o olho do dono engorda o boi”, mas que também significa perda inevitável de património já que nestas condições o animal demora pelo menos três anos e meio para ficar pronto para o abate; do outro lado, o alto investimento, protagonizado pelo confinamento – o que se pressupõe gastos elevados em alimentação, manejo, instalações etc. A terceira via se concentra na produção de carne bovina de qualidade, mas a custos competitivos, que está se desenvolvendo, especialmente no Brasil Central: o boi verde.

Mas o que significa exatamente produzir o boi verde? Em poucas palavras, trata-se da produção natural ou ecológica, aproveitando as condições da propriedade. Não são necessários pesados investimentos em instalações, mão-de-obra ou outros setores, que oneram o projeto pecuário. Basta ter atenção especial à qualidade da comida oferecida aos animais, suplementá-los na hora certa exercendo um manejo simples, moderno e objetivo e pronto: é possível ter um novilho precoce com pelo menos 16 arrobas e carcaça pronta em menos de dois anos. E, o melhor, a um custo extremamente favorável.

O Núcleo de Criadores de Novilho Precoce do Triângulo Mineiro é uma das entidades que apostam na criação do boi verde. Nesse momento, 130 pecuaristas da região, com um rebanho total de mais de 300 mil cabeças, investe na técnica e com excelentes resultados. Na região, estamos gastando cerca de R$ 30,00 por arroba para produzir o boi verde e a receita média é de R$ 38,00/arroba. Em um novilho de 16 arrobas, o ganho por animal supera com folga os R$ 120,00; considerando-se a diferença da idade de abate, no acerto final obtém-se margem de lucro 100% superior ao processo tradicional.

Criar boi verde não é apenas mandar o boi para o pasto. Alguns cuidados são necessários, como cuidar da fertilidade do solo e do capim, além de complementar a alimentação dos animais com sal mineral de qualidade e, no período da seca, sal proteinado. Com esses poucos cuidados, os animais têm condições de enfrentar melhor o período de estiagem e até manter a capacidade de engorda. Vou listar algumas vantagens da criação do boi verde, valorizadas pelos pecuaristas:

1. Ganho de tempo: em condições propícias se obtém um animal produto de cruzamento industrial pronto para o abate entre 18 meses e 24 meses – pelo método tradicional, esse tempo chega a 3,5 anos

2. Qualidade de carne: Como o boi abatido é um animal novo, sua carne é mais macia e de sabor mais apurado

3. Potencial de Exportação: O mercado mundial valoriza muito esse tipo de carne e o Brasil é o país com melhores condiçõesde produzi-la

4. Preferência do Consumidor: Pesquisas indicam que o consumidor está propenso a pagar mais por produtos ecologicamente corretos e mais saudáveis

5. Custo/Benefício: Menores custos de produção, animal pronto para o abate mais cedo e mercado comprador cada dia mais promissor. O pecuarista tem muito a ganhar investindo no boi verde

No ano passado, realizamos em Uberlândia o I Encontro Nacional do Boi Verde. O objetivo foi disseminar as técnicas de criação e manejo do boi ecológico. Cerca de 700 pecuaristas de todo o país foram ao Triângulo Mineiro obter mais informação sobre o boi verde, o que para nós tem um importante significado: o criador quer produzir melhor. Essa sensibilidade está levando a Prefeitura Municipal de Uberlândia e seus parceiros a promoverem o II Encontro Nacional do Boi Verde, entre os dias 03 e 05 de agosto. Este ano, mais do que um panorama geral da técnica, o evento irá discutir em profundidade temas fundamentais para a implementação de um projeto de boi verde. A programação é extensa e inclui a formação e o manejo de pastagens e animais, suplementação mineral, fronteiras da pecuária, o boi dos trópicos, a cadeia da carne, marketing, experiências internacionais (Austrália) e um dia de campo sobre a importância da genética.

O mercado internacional está se abrindo à carne brasileira. Mas precisamos produzir mais e melhor para ocupar esse espaço. O boi verde com certeza será a nossa melhor resposta e participação no mercado de carne de qualidade.

Obs.: Mais informações sobre o II Encontro Nacional do Boi Verde podem ser obtidos pelo telefone (11) 3237-3029.

Paulo Ferrola
Secretário de Desenvolvimento - FUNDAÇÃO ABC